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segunda-feira, 1 de setembro de 2014

CLARO QUE EXISTEM CERTAS HORAS...

 Num fim de tarde após ter vindo uma chuva, o velho com os braços encruzados sobre a cabeça do moirão e com o pé no primeiro fio da cerca, contemplava a paisagem até onde a vista lhe permitia.

O vento de frente forçava tirar-lhe o chapéu, cujo barbicacho firmava-se naquele queixo onde era cultivado um cavanhaque tordilho.

Um pouco à distância e a esquerda do capão de eucaliptos, fumegava o cano do fogão no rancho do vizinho mais próximo, seu compadre, amigo desde guri, com quem repartiu muitas façanhas pelas andanças da vida.

Conforme o vento foi ficando mais calmo, as formigas de asa “decolavam” no potreiro e num frenesi iam pegando altura que o velho até brincou com ele mesmo de que elas iriam “aterrissar” no arco-íris. Isto as que se escapassem do bico das galinhas e dos pássaros.

Flechando em direção ao açude, meia dúzia de patagônias rasgavam o espaço e já voltando de lá, um socó batia lentamente suas asas satisfeito como quem já tivesse jantado.

No cinamomo da frente, um cardeal e um canário da terra encerravam suas jornadas cantando melodiosamente. 

No palanque alto da porteira, o joão-de-barro fazia um alarde sobre o teto de sua casa dançando para a parceira, também se despedindo do dia e prenunciando bom tempo para amanhã.

O gado manso ia chegando para perto das casas. Iniciava-se o ritual de prender os terneiros.

A porcada grunhia enquanto um peão atrapalhado pela criação no terreiro carregava dois latões com farelo. Alguns frangos de rinha voavam para beliscar nos latões, na esperança de encher o papo.

O velho já tinha descruzado os braços, mas o pé ainda continuava sobre o arame. Agora com as mãos encruzadas sobre a cabeça do moirão aproveitava para um cochicho com o Patrão Maior num agradecimento humilde e bem campeiro.

Enquanto a paisagem foi tornando-se sombria e seus pensamentos perdiam-se pelas covancas da memória, permanecia ali até que ouviu:
        
- O MATE TÁ PRONTO, VEM!

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